A Diminuição do Número de Mulheres na Computação e a Ascensão da Cultura Tech



Nos anos 70 as matérias iniciais dos cursos de ciência da computação não exigiam conhecimentos prévios dos alunos. Na década de 80, os professores começaram a presumir que os alunos já entravam na faculdade com alguma familiaridade. Até 1984, as mulheres eram quase 40% dos cargos da área de computação. A partir desse ano, o percentual de mulheres nesses cursos começou a decrescer consideravelmente. Em 2011, a porcentagem de mulheres era 12%.
No mundo, em média, menos de 5% das meninas pensam em seguir em uma área de computação ou engenharia. 41% das mulheres que trabalham com tecnologia acabam deixando a área, em comparação com apenas 17% dos homens (fonte: Harvard Business Review). No Brasil, as estatísticas também são alarmantes. Em 2013, as mulheres representavam somente 15,53% dos ingressantes dos cursos de computação e, destas, apenas 13,6% chegavam a concluir o curso, segundo o Censo da Educação Superior.




Depois de ir contra todos esses números, a mulher que enfrenta a sala de aula nesses cursos acaba se deparando com mais um obstáculo: a falta de credibilidade gerada pela estereotipação das diferenças de gênero. Situações de humilhação, objetificação e preconceito regam relatos de meninas que, diariamente, lutam por um espaço na tecnologia”.
A partir da década de 80 os lares das famílias começaram a contar com os primeiros computadores pessoais (o primeiro Macintosh foi lançado em 1984). Apesar de mulheres terem um papel fundamental na história da computação (inclusive a primeira programadora foi uma mulher, Ada Lovelace) os computadores pessoais começaram a ser vendidos para o público masculino.
Esses primeiros computadores eram vendidos como brinquedos, pois sua principal finalidade era executar jogos simples. Começou-se a se consolidar uma cultura tech onde as mulheres não foram incluídas. Presumiu-se, erroneamente, que as meninas não tinham interesse em computadores e jogos. 
A cultura tech inclui o meio geek, nerd e todas as mídias que eles envolvem – filmes, televisão, videogames, jogos… todos esses produtos eram voltados para meninos. “Os pesquisadores Caitlin Kenney e Steve Henn tentaram desvendar o mistério em torno da debandada das mulheres da ciência da computação. Para eles, os responsáveis por esse fenômeno são os estereótipos de gênero, especialmente no que diz respeito a brinquedos infantis e o marketing que os envolve”.
O que aconteceu foi que essas meninas que nunca tiveram contato com computadores tinham um grande choque inicial ao ingressar em cursos superiores de computação, onde esses conhecimentos eram exigidos, de modo que elas ficavam em clara desvantagem em relação aos colegas homens.
As mulheres tendem a ser afastadas dos cargos técnicos e da chamada área dura da TI, a programação, e ocupar vagas gerenciais ou nichos, como análise de sistemas, justamente onde se exige comunicação e conciliação de conflitos, papeis sociais tradicionalmente considerados femininos” - Barbara Castro, pesquisadora.
Já foi provado pela ciência que não existe cérebro feminino e cérebro masculino. Desde a Revolução Industrial no século 19, foi definido socialmente que a mulher cuidaria da casa, enquanto o homem sairia para trabalhar nas indústrias e lidar com as máquinas, de modo que só eles tivessem contato com a tecnologia. Pode-se concluir, portanto, que o afastamento das mulheres dos cursos de computação se deu por papéis de gênero, estereótipos e todos os problemas que eles trazem, como a própria relação entre a queda do número de mulheres e a ascensão dos computadores pessoais comprova.
Mas e agora? Os tempos estão mudando e existem vários projetos para incentivar o ingresso de mulheres nas áreas de computação no Brasil e no mundo, como o Meninas Digitais da SBC, o Woman@Comp na UFSCar, o PyLadies e muitos, muitos outros.


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